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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Reflexão: Eu e a Umbanda

"Esta carta destina-se às pessoas que vêm acompanhando meu trabalho junto à Umbanda nestes últimos 12 anos de dedicação a esta que é minha religião. Gostaria de fazer algumas considerações acerca do que entendo por religião e espiritualidade, já que nem sempre caminham juntas. Nem todo religioso é espiritualista, e nem todo espiritualista é religioso; podemos ainda dizer que nem todo religioso ou espiritualista está comprometido com a causa do crescimento.

Venho de uma família espírita e espiritualista. Na infância, entendi que esta era uma via natural. Com o tempo, entendi que estávamos à frente de nosso tempo, (no meu entender claro), por ter esta visão acerca do mundo. Compreendia que éramos pessoas libertas de religião (Católica) e de tudo que ela impunha de peso, como o pecado e o inferno. Enquanto Kardecista, jamais aceitaria dogmas e tabus, assim como não me dobraria a meias verdades; tudo teria que ser explicado.

Então conheci a Umbanda, uma religião nova e inovadora, com uma proposta diferente de tudo que já havia visto em religião. A Umbanda mostrou-se a mim muito próxima do Espiritismo (Kardecismo), com o detalhe de trazer elementos a mais como a Magia, o culto a Divindades e muita manifestação em detrimento da informação; na Umbanda, o costume de estudar nem sempre é exigido.

Assim, fui e estou caminhando na Umbanda. Ser umbandista é um ato de coragem ou não, pois muitos por covardia negam que praticam ou freqüentam a Umbanda. Assumir-se Umbandista com Orgulho é um ato de rebeldia. Então, quando estudamos a história das religiões descobrimos que os maiores avatares e iluminados foram rebeldes e corajosos como Jesus Cristo, Mohamed, Moisés, Abraão, Buda Sidharta Gautama, Shankara, Ramakrishna, e outros líderes espirituais.

Ter uma proposta real de crescimento espiritual implica em comprometimento, e quantos estão realmente comprometidos com o crescimento espiritual de si mesmos?

O Caboclo das Sete Encruzilhadas criou a religião de Umbanda com estas palavras: “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade.” Fazer a caridade pura e simplesmente não implica em ser uma pessoa melhor, pois, para se tornar melhor, é preciso o autoconhecimento.

Podemos até dizer que muitos fazem a caridade por desencargo de consciência e outros ainda a fazem por vaidade. A partir do momento que se diz que a melhor pessoa é a que faz mais caridade, muitos passam a fazê-la para ser melhor que os outros, e assim tornam-se objetos do Ego e da Vaidade. Qualquer movimento no sentido de ser melhor do que os outros, é um movimento do ego. O único crescimento está em ser melhor do que eu mesmo. Isto implica numa análise profunda de autoconhecimento.

Bem, ainda sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas, ele também disse que: “Aprenderemos com quem sabe mais e ensinaremos a quem souber menos, a ninguém voltaremos as costas.” Aqui o caboclo coloca uma direção importante para a religião de Umbanda, ele mostra que é fundamental o crescimento e aprendizado.

Agora digo eu:

Se, podemos aprender com todos, também podemos aprender de todas as doutrinas, filosofias e religiões. Só não podemos perder o propósito de aprender, de sermos melhores. Fazer o Bem e não fazer o mal é algo muito simples. Devemos aproveitar a religião para um propósito maior, como nos autoconhecer.

Talvez seja uma utopia de minha parte, talvez seja difícil o que gostaria de praticar dentro da Umbanda. Tenho acompanhado nestes anos a luta de meu Irmão e Mestre Rubens Saraceni, que nos trouxe a “Teologia de Umbanda” (1995), um curso esclarecedor e fundamentado para quem quer conhecer mais acerca da religião; eu mesmo ministro este curso desde 2000.

O que venho questionando não é acerca da informação, pois hoje temos a obra do Rubens para recorrer ao estudo e conhecimento. O que me ocupo é sobre a relação humana e seu comprometimento com o autoconhecimento e a proposta de crescer.

No nosso modelo de trabalho espiritual é possível ser um bom médium, que tem um dom de incorporação bem apurado, dar boas comunicações e no entanto ser um ser humano desequilibrado.

Me parece que temos super valorizado o dom em detrimento do ser humano que somos, não nos interessa se tal pessoa é boa ou não, para trabalhar na Umbanda só interessa se é bom médium.

Assim, nós os umbandistas nos acomodamos na posição de ir ao terreiro incorporar os guias para trabalhar e voltar para casa, dessa forma, não precisamos ter nenhum comprometimento com nosso crescimento interior.

A maioria das pessoas acredita que ter crescimento interior consiste em ler alguns livros e fazer alguns cursos. O crescimento começa com o identificar dos nossos defeitos e procurar caminhos para corrigi-los, quanto mais comprometidos e sinceros, mais vamos identificá-los e lutar por uma transformação interior.

Esquecemos ou ninguém nos ensinou que Céu não existe fora de nós. Não adianta fazer toneladas de caridade, se estivermos desequilibrados internamente, não alcançaremos um lugar bom.

Sendo tempo e espaço uma ilusão comprovada pela física, o único lugar que podemos ir é para dentro de nós mesmos e o único tempo real é agora, logo caridade não leva a lugar nenhum se antes você não for a este lugar internamente. A caridade também deve ser uma conseqüência e não o objeto ou a senha para entrar no céu.
Sempre que questiono a tudo, questiono a mim mesmo, aliás o meu maior questionamento é a mim mesmo, isto pode ser entendido como um ato de rebeldia, que significa não me conformar comigo mesmo, não ser medíocre.

Tenho Orgulho de Ser Umbandista ! ! !

A Umbanda em mim não é um Terreiro, é minha religião e uma forma de ver a vida além de uma prática espiritual, que não me impede de ter outras práticas como a Magia Divina, Cabala Hebraica, Obeah, Xamanismo e outros... Além das práticas de terreiro, tenho minhas práticas diárias de Umbanda, por isso, também, sou umbandista, não dependo de um terreiro para ser ou praticar.

Ensino a todos que primeiro temos que ajudar a nós mesmos e depois os outros, pois se não estiver bem comigo mesmo como vou ajudar aos outros? Acredito inclusive que meus Guias ajudam primeiro a mim e depois aos que os procuram através de mim. Ajudar a mim mesmo neste momento diz respeito a me conhecer melhor, ajudar aos outros significa ajudá-los a se conhecer melhor.

O propósito maior da religião deve ser de criar condições para a pessoa ter uma experiência com Deus, não apenas estudar regras e doutrinas. Entendo que precisamos aprender com todos os mestres da humanidade e ir além do don mediúnico, devemos ir além de ser apenas um instrumento, devemos ir além da passividade, devemos ir além da “caridade”, devemos nos tornar nós mesmos pessoas melhores e não apenas o nosso dom ser melhor.

Continuo ministrando aulas de Teologia, Sacerdócio, Desenvolvimento Mediúnico e Magia Divina, no entanto creio que carecemos de um modelo de trabalho que valorize mais o ser humano e que não seja exigido apenas o dom mediúnico.

Me lembro de uma historinha de um Mestre Hindu que afirmava que graças a religião tinha perdido tudo:

Perdido seu Ego, sua vaidade, seus apegos, sua ira, sua inveja e outros...

Pois bem ainda não perdi tudo isso, tenho ainda muita coisa a perder, mas é fato que a Umbanda me ajudou e muito a ser mais humilde, mesmo porque, se não sou mais humilde, eu finjo bem. Truque do ego ou não, me sinto uma pessoa melhor, embora fique claro que meus valores fundamentais vieram da família, mais do que religião precisamos dar valores a nossos filhos, tenho que agradecer a Deus pelos valores recebidos de Pai e Mãe.

Na Umbanda, aprendi a dar menos valor ao Ego, pois na Umbanda tive a oportunidade de extravasá-lo, afinal, o que mais tem é “Pai de Santo” vaidoso, e se assim eu o fosse, ninguém me conheceria por Alê, como todos me chamam; talvez eu fosse conhecido como “Pai Alexandre Cumino de Xangô” ou de “Oxalá”?

Isto não quer dizer que em momento algum me senti vaidoso, já me senti sim, e até já tive atitudes das quais não me orgulho, pois quem está livre da vaidade? No entanto. estou comprometido em queimá-la. Na Umbanda, podemos cair ou subir facilmente pois ela não nos poda, temos um livre arbítrio muito forte.

O fato é que este é um momento de reflexão, de desconstrução, construção ou reconstrução. Precisamos de idéias novas, de novas soluções. Nada cresce sem crise, sem questionamento, sem mudanças e transformação. Não é à toa que o fator da Evolução é Transformação.

E no caso da Umbanda, estamos falando de uma religião em construção."

(Alexandre Cumino)

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